PEQUENA COLETÂNIA DA POESIA DE MAX MARTINS
Estranho
Não entenderás o meu dialeto
nem compreenderás os meus costumes.
Mas ouvirei sempre as tuas canções
e todas as noites procurarás meu corpo.
Terei as carícias dos teus seios brancos.
Iremos amiúde ver o mar
Muito te beijarei
e não me amarás como estrangeiro.
nem compreenderás os meus costumes.
Mas ouvirei sempre as tuas canções
e todas as noites procurarás meu corpo.
Terei as carícias dos teus seios brancos.
Iremos amiúde ver o mar
Muito te beijarei
e não me amarás como estrangeiro.
Koan
A pá nas minhas mãos vazias *
Não a pá de ser
mas a de estar, sendo pá
lavra no vento
nuvem-poema
arco
busco-te-em-mim dentro dum lago
max
eKOÃdo * *
e a face ex-garça-se verdemusgo
muda
mas a de estar, sendo pá
lavra no vento
nuvem-poema
arco
busco-te-em-mim dentro dum lago
max
eKOÃdo * *
e a face ex-garça-se verdemusgo
muda
(Quem com ferro fere
o canto-chão
infere o
silen
cioso
poço?)
o canto-chão
infere o
silen
cioso
poço?)
pá!
Cavo esta terra - busco num fosso
FODO-A
agudo osso
oco
flauta de barro
sôo?
Cavo esta terra - busco num fosso
FODO-A
agudo osso
oco
flauta de barro
sôo?
Silentes os sulcos se fecham
espelhos turvam-se
e cavo sou
a pá nas minhas mãos vazias
espelhos turvam-se
e cavo sou
a pá nas minhas mãos vazias
____________________________________
Notas:
( * ) "Observai a pá nas minhas mãos vazias". Primeiro verso de uma gatha de Jensye (Shan-hui, 497-469)
( ** ) eKOÃdo - ko e ã demonstrativos da língua tupi-guarani ko; este(s), esta(s), visível, perto, a (idem ã) - esta(s); significaria aquilo que está longe, invisível, pouco visível, imóvel, quieto.
Dix Max H. Boudin (O Simbolismo Verbal Primitivo): "O díptico ako corresponde à nossa concepção dualista clássica da vida de tal maneira que cada pré-raiz tem uma sentido mais profundo e mais subjetivodo que se supões inicialmente; os conceitos de essência e existência repercutem na idiossincrasia tupínica através destas simples palavras a (ã) (essência) e ko (existência)".
H'era
A Sylvia e Benedito
A Sylvia e Benedito
E verde eras - fomos
hera num muro
cantochorado pelo vento
que envolvia tudo - o verde -
embora o verde às vezes de haver se ressentisse
no olhar de quem
além
a gente amava ave.
Éramos
e perdurávamos
avos do ser estando em dia a carne
para o pacto-pasto das raízes,
um rio-sim manando milhas
de sonhos-ervas, grãos
de sêmen solto amanhecente - o sol
a sombra
a relva.
E se era inverno, o verde sido,
um não-sim, um eco
ainda assim se condizia
no próprio coração dos que no leito amando
agora se desamam
ou se desdizem - h'era
amor tecido contra um muro.
Eu, poema
A Ronaldo Moraes Rego
Tateio
Ateio o abismo dessa pele. Toco
a flor do orgasmo, o ânus sinuoso da beleza
e é falso
o ouro, o lume destes dedos eu te escrevem: Ouro
desmoronando:
gozo
agora de não ser
senão ruína, urina solitária
Gozo
como outrora o gozo
tenso na sua glória, casto
desmaiava
(o próprio gozo da palavra dita
da palavra lida: Vida
o câncer
no seu gozo
consumia)
É negro o branco deste campo da batalha
nua contra o medo
contra os teus lábios, noite
sepultada inábil, inúbil, sob o gelo
Negra a bandeira lúbrica em que te exclamo
e busco
conquistando o nada
- o vôo sem gume
atravessando inútil os termos, ermos do poema
Tateio
Ateio o abismo desse olhar poroso-teia
que me enleia, lê
e silencia
Na praia o crepúsculo
Os seios não são como as ondas,
colo de pedra lisa, espuma e sal;
mas o corpo todo um pasto branco para o canto
e os cabelos e os olhos , sombras
desligadas do verde das montanhas.
No beijo morno bóiam as dobras do sono
e entre as coxas abandonadas, o eco dum suspiro.
Um jardim zen
Um coração de pedra e de silêncio entre palavras
Neste espelho
neste jardim fechado-imóvel
um tigre
é que nos vê
(puro-feroz)
- não vemos
E assim nos é/nos há/não somos
nem penetramos e sumimos
na sombra desse olhar
da areia
A Cabana
É preciso dizer-lhe que tua casa é segura
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira
Que há força interior nas vigas do telhado
E que atravessarás o pântano penetrante e etéreo
E que tens uma esteira
E que tua casa não é lugar de ficar
mas de ter de onde se ir
Os amantes
ele
&
ela anelam
num halo
violáceos m
ela a
& l
ele num elo de hélice a
violam
o espaço / o templo
do tempo / sua cúpula
de gelo se abraçam/se abrasam
Deserdam-se da morte
E aquecidos
entre-se-esquecem
calados
no ar
um no outro
no topo
dos topos
vertigem
e//es
espelhos
se anulam
ardem e se apagam
na luz
Contemplação
palavras-pássaros no horizonte de página
voam
vão
e voltam
voltam vozes
(ouves?)
vão
e voltam
(vês?)
Poema sem norte
É sempre quando se fecha a porta que desejo voltar
E a saudade já é esta hoje que desprezo
Ante o beijo brotando da memória
Frio, mas vivo.
Caminho sem horizontes
Ao passado infalível.
Nunca prosseguir. Venho apenas,
Ferindo troncos, plantando marcos.
Ser como o mar, voltando sempre
Sempre na praia.
Jaculatório és
Jaculatório és
meu verso: pênis
ponta do olho atinge o olho
o olho
que te pariu meu verso
reverso
atrás da seta
que te conduz
(condiz)
à queda
A força do repuxo
catapulta expulsa
alcança a ilha: Terra!
- teu país-paul
lá onde
a tua oração
ereção
deságua